30 de jun. de 2007

Médicos e Curandeiros


Médicos, no Brasil do século XIX, eram artigos raros e caros. Mais do que isso, eram motivo de chacota em desfiles de carnaval e piadas de jornais; suas prescrições causavam verdadeiro pânico entre os mais variados pacientes: homens ou mulheres, brancos ou negros, pobres ou ricos. Para lutar contra as dificuldades que enfrentavam, travaram verdadeira guerra contra autoridades das províncias e da corte e, principalmente, contra a imensa variedade de concorrentes nos exercícios das artes de curar, como curandeiros, médiuns, barbeiros, boticários, benzedeiros, homeopatas, parteiras e até supostos "doutores" estrangeiros...

(A caricatura acima retrata cenas da "Revolta da Vacina", ocorrida durante o governo Rodrigues Alves a partir da aprovação no dia 31 de outubro de 1903 da lei da vacinação obrigatória. Preparado pelo médico Oswaldo Cruz - que tinha pouquíssima sensibilidade política - o projeto de regulamentação sai cheio de medidas autoritárias. O texto vaza para um jornal e no dia seguinte à sua publicação, começam as agitações no centro da cidade. Financiados pelos monarquistas — que apostavam na desordem como um meio de voltar à cena política — jacobinos e florianistas usam os jornais para passar à população suas idéias conspiradoras, por artigos e charges; no dia 16 de novembro, o governo revoga a obrigatoriedade da vacina, mas continuam os conflitos isolados, nos bairros da Gamboa e da Saúde. Dia 20, a rebelião está esmagada e a tentativa de golpe, frustrada. Começa na cidade a operação “limpeza”, com cerca de 1000 detidos e 460 deportados).
Recomendação do dia: o livro "Cidade Febril - Cortiços e Epidemias na Corte Imperial", de Sidney Chalhoub, Ed.Companhia das Letras - Escrito de forma apaixonante e bem-humorada, o livro reinterpreta conflitos de poder no Rio de Janeiro do século XIX à luz da história social.