21 de nov. de 2005

Rio


Gostaria de falar um pouco da história do lugar onde vivo. Sabe-se que o nome "Rio de Janeiro" deve-se ao fato de que os portugueses, que aqui chegaram no dia 1º de janeiro de 1502, terem se equivocado, pensando tratar-se da foz de um rio. A baía era chamada pelos índios de Guana-Bara ou Guana-Para, isto é, seio do mar e os portugueses que nasciam nessa região eram chamados de fluminenses, derivado da palavra latina flumens: rio; somente a partir de 1819 os nascidos na cidade passaram a ser chamados de cariocas, que vem do nome dados pelos índios tamoios, "acari-oca", ou seja , toca de acará, peixe abundante na região. A fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, propriamente dita, ocorreu no dia 1º de março de 1565, quando uma expedição comandada por Estácio de Sá chegou com a incumbência de expulsar franceses que aqui estavam; segundo as palavras do padre Anchieta, que acompanhava a expedição, "...logo ao primeiro dia de março puseram-se a roçar a terra com grande fervor e cortar madeira para a cerca, sem querer saber dos franceses ou dos tamoios...", tendo sido dado o nome São Sebastião à cidade em homenagem ao rei de Portugal de então.

(A foto mostra um bairro em que já morei, Botafogo, um arrabalde que até o final do século XVIII não tinha um papel muito expressivo na cidade do Rio de Janeiro. Com uma produção agrícola de pouca importância, as terras de Botafogo eram mais conhecidas como uma região de passagem para os fortes do litoral sul. Com a chegada da corte portuguesa no início do século XIX a situação se modificou, pois o desenvolvimento da cidade fez com que numerosos estrangeiros viessem para o Rio; assim a enseada de Botafogo, que até ali não passava de um pouso para pescadores e ciganos, veio a ser um dos pontos mais procurados pelos comerciantes ingleses, sendo ocupado com casas de campo e , aos poucos, com residências permanentes)
Recomendação do dia: O livro "Dom Obá II, o Príncipe do Povo", Ed.Companhia das Letras - Uma investigação histórica sobre a vida, o tempo e o pensamento desse filho de escravos que se dizia descendente de uma linhagem de soberanos africanos e que conseguia ser recebido nas audiências públicas dadas pelo imperador Dom Pedro II na Quinta da Boa Vista.

28 de out. de 2005

Navegar é preciso...


A mais antiga viagem marítima registrada até agora havia sido a travessia do moderno Homo Sapiens para a Austrália, há aproximadamente 60 mil anos. Recentes descobertas feitas na ilha de Creta indicam que o homem lançou-se ao mar muito tempo antes disso. Ferramentas de pedra ali encontradas têm pelo menos 130 mil anos e são indícios das mais antigas atividades de navegação, já que como a ilha existe há mais de 5 milhões de anos, homens capazes de fazer aqueles artefatos somente podem ter chegado lá de barco. Ainda mais intrigante é o fato dos arqueólogos terem notado que o estilo de machadinhas de mão encontradas é semelhante ao das utilizadas por hominídeos na África, o que sugerem que elas poderiam ter até 700 mil anos(!)

Recomendação do dia: O filme Ben Hur, um drama épico bíblico de 1959, com direção de William Wiler. Como curiosidade, o fato de que a MGM queria que uma autêntica galera romana fosse utilizada nas cenas de batalha. Para tanto, contratou um pesquisador que se dedicava à arquitetura romana; quando ele apresentou o design do barco, engenheiros afirmaram que o barco afundaria, pois era muito pesado. Ainda assim ele foi construído e, ao ser colocado no oceano, inicialmente flutuou, porém uma pequena onda foi suficiente para afundar a embarcação. Por causa disso, as cenas foram rodadas em um gigantesco tanque, com cabos prendendo o barco.
(Na gravura, uma galera romana semelhante à utilizada no filme)

5 de set. de 2005

Planos


Terminei em 2003 uma Pós-Graduação na Universidade Cândido Mendes cujo tema era "História do Século XX" e tenho ainda planos de fazer mestrado. Atualmente, para História aqui no Rio, as opções são PUC, UFF e UERJ. O problema é que já leciono em duas matrículas no município, além de em uma escola particular e não sei como vou conciliar tudo isso - tempo e dinheiro - porém para que eu ensine em uma universidade não há outra alternativa a não ser o mestrado.

(A gravura mostra um folheto de propaganda para o recrutamento de negros no exército da União durante a Guerra Civil dos EUA - 1861/1865 - O interessante é que esses "regimentos de cor", como eram conhecidos, tinham invariavelmente como comandantes oficiais brancos, o que é possível observar nesta rara litografia)
Recomendação do dia: O livro "História dos Estados Unidos desde 1865", de Pierre Melandri, Edições 70 - Em 1865 os EUA eram apenas um país com papel secundário na cena internacional. O livro retrata a transformação dessa nação, que em menos de dois séculos surge como o centro de uma produção industrial sem precedente e como uma potência imperial que domina a economia global.

15 de jul. de 2005

O Grande Medo


Ontem, 14 de julho de 2005, dei os retoques finais no blog; espero compatilhar conhecimentos e emoções! Ontem foi também feriado nacional na França. Comemorou-se a queda da Bastilha, episódio que a historiografia tradicional marca como início da Revolução Francesa. Na verdade, esse movimento deve ser visto como um processo, onde deve ser levado em conta aspectos econômicos e sociais. Um deles foi chamado de "O Grande Medo de 1789" (tema de um estudo clássico do historiador francês Georges Lefebvre) , assunto praticamente desconhecido de nossos estudantes e que trata de um momento dramático e misterioso: uma semana após a queda da Bastilha multiplicavam-se boatos, tanto no campo, quanto nas cidades, de que "bandidos" estariam vindo...Quem seriam esses "bandidos"? De onde viriam tais boatos? Foi o caráter "misterioso" desse "Grande Medo" que o transformou em um ítem polêmico da historiografia sobre a Revolução. A principal versão é a de que tal medo seria um esforço contra-revolucionário, isto é, de que elementos hostis à revolução lançavam boatos para desgastar o movimento popular aterrorizando seus próprios participantes, dando a versão de que camponeses revoltados ameaçavam queimar ou pilhar aldeias vizinhas, caso suas populações não se dispusessem a acompanhá-los. A tática deu resultado, aldeias pegavam em armas para se defenderem de seus "agressores"; o povo metia medo a si mesmo... A propósito...Você tem medo do MST?

(O desenho retrata a tomada da Bastilha, na verdade uma prisão que estava em vias de ser desativada e que no momento de sua invasão tinha apenas sete presos comuns, vivendo sob um regime bem melhor que o de outras prisões)
Recomendação do dia: O DVD "Danton - O Processo da Revolução", direção de Andrzej Wajda - Quatro anos após a Revolução Francesa, um violento processo político toma conta do país. Danton, homem do povo e um dos líderes da revolta, questiona os rumos do movimento e se torna mais uma vítima do terror instaurado por seu amigo Robespierre.