22 de out. de 2006

A Guerra do Paraguai (uma história mal contada)


A Guerra do Paraguai teve desde seu término inúmeras interpretações dos que a estudaram. A primeira delas, surgida quando ainda viviam os que lutaram no conflito, simplificava a explicação da guerra ao ater-se às características pessoais de Solano López, classificado como ambicioso, tirânico e desequilibrado. Já no início do século XX, adeptos do positivismo, filosofia contrária ao regime monárquico de governo, passaram a responsabilizar o Império brasileiro pelo início da guerra; também nessa época, no Paraguai, Solano López teve sua imagem "reconstruída", passando a ser apresentado como grande estadista e chefe militar. Nas décadas 1960 / 1970, intelectuais nacionalistas e de esquerda "promoveram" Solano López a líder anti-imperialista e apresentaram o Paraguai como uma nação progressista que fugia à subordinação da Inglaterra - entre os livros mais marcantes desse revisionismo podemos citar "Genocídio americano:a Guerra do Paraguai", de J.J.Chiavennato, grande sucesso editorial e que ensinou a gerações de estudantes brasileiros (aí me incluo)que o imperialismo inglês usou a guerra para destruir o Paraguai, "único Estado economicamente livre" da América do Sul. Essa teoria conspiratória não tem provas documentais; na verdade tanto a historiografia conservadora quanto a revisionista simplificaram as causas e o desenrolar da Guerra do Paraguai, ignorando documentos e substituindo a metodologia do trabalho histórico pelo emocionalismo fácil e denúncia indignada. Atualmente a superação dos regimes autoritários sul-americanos, os avanços do conhecimento histórico e a abertura de arquivos criaram condições para uma análise mais objetiva do conflito, superando deturpações ou simplificações.

(A gravura mostra a batalha do Avaí, uma dos combates da dezembrada - conjunto de operações militares ocorridas em dezembro de 1868, que também inclui o combate da Ponte de Itororó, planejadas e comandadas pelo então Marquês de Caxias, abrindo acesso a Assunção)
Recomendação do dia: O livro "Maldita Guerra", de Francisco Doratioto, Editora Companhia Das Letras - Escrito em linguagem clara e direta, este livro é fruto de quinze anos de pesquisa em arquivos e bibliotecas do Brasil, do Rio da Prata e da Europa, desfazendo mitos antigos e recentes sobre o conflito.