28 de nov. de 2009

Polacas


As ruas de grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro acostumaram-se a receber um grupo de mulheres que, por quase um século, prostituiu-se. Nascidas no Leste Europeu – e, por isso, conhecidas aqui como “polacas” –, elas eram judias, pobres, sem dote para um bom casamento e quase sempre analfabetas. Saíram de seus países fugidas, com medo das ondas de anti-semitismo. Sem perspectivas, acabaram recrutadas por cafetões. O relato mais antigo da chegada das polacas por aqui data de 1867 e o documento menciona a chegada ao porto do Rio de 104 “meretrizes estrangeiras” – dessas, 67 ficaram e 37 seguiram para Argentina.
A história das polacas foi esquecida. Primeiro porque não tinham sucessoras. Depois porque sempre foram discriminadas – inclusive pela sociedade judaica brasileira da época, que não permitia a elas nem um enterro digno. A maior parte das polacas está enterrada em cemitérios construídos por associações que fundaram no Brasil, como o Cemitério Israelita de Inhaúma, no Rio. Expressões usadas pelas polacas judias deram origem a palavras hoje muito populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente tinha doença venérea, diziam ein krenke (“doença”, em iídiche), que acabou se transformando em “encrenca”. E, quando a polícia dava incertas nos bordéis, elas gritavam sacana (“polícia”) – que virou “sacanagem”.

(Na foto, de Augusto Malta, uma polaca e sua escrava)
Recomendação do dia: O livro "Baile de Máscaras: mulheres judias e prostituição - As polacas e suas associações de ajuda mútua", ed.Imago, onde Beatriz Kushnir faz uma brilhante pesquisa sobre o mundo privado de mulheres tidas como públicas.

12 de jun. de 2009

Vestígios de Poder


A cidade inca de Machu Picchu, nos Andes, localizava-se a uma altitude de cerca de 2500m e apesar de oculta e livre dos espanhóis (nada é mencionado em suas crônicas), foi abandonada ainda no sec. XVI por razões e em circunstâncias ignoradas. Acreditava-se que as ruínas incas haviam sido “descobertas” por Hiram Bingham, da Universidade Yale em 1911, entretanto, em 1989, o cartógrafo americano Paolo Greer encontrou um mapa alemão datado de 1874 que já as indicava. Indo atrás da história desse enigmático mapa, Greer e sua equipe conseguiram comprovar que o verdadeiro descobridor de Machu Picchu foi o alemão Augusto R. Berns, minerador e proprietário de terras na região das ruínas por volta de 1867. Atualmente Machu Picchu pode ser destruída a qualquer momento por deslizamentos de terra. De acordo com geólogos japoneses que tem monitorado o local, o declive na parte posterior do sítio arqueológico está recuando cerca de 1 cm por mês, podendo haver uma movimentação de terra de até 100 m de profundidade, danificando irreparavelmente as antigas estruturas.

(A foto mostra as famosas ruínas, nas quais foram encontrados milhares de esqueletos, sendo que 80% eram de mulheres)
Recomendação do dia: O DVD do filme "Queimada", dirigido por Gillo Pontecorvo que, com visual e narrativas impressionantes, além de grande atuação de Marlon Brando, explora temas como colonialismo e insurreição.