As ruas de grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro acostumaram-se a receber um grupo de mulheres que, por quase um século, prostituiu-se. Nascidas no Leste Europeu – e, por isso, conhecidas aqui como “polacas” –, elas eram judias, pobres, sem dote para um bom casamento e quase sempre analfabetas. Saíram de seus países fugidas, com medo das ondas de anti-semitismo. Sem perspectivas, acabaram recrutadas por cafetões. O relato mais antigo da chegada das polacas por aqui data de 1867 e o documento menciona a chegada ao porto do Rio de 104 “meretrizes estrangeiras” – dessas, 67 ficaram e 37 seguiram para Argentina.
A história das polacas foi esquecida. Primeiro porque não tinham sucessoras. Depois porque sempre foram discriminadas – inclusive pela sociedade judaica brasileira da época, que não permitia a elas nem um enterro digno. A maior parte das polacas está enterrada em cemitérios construídos por associações que fundaram no Brasil, como o Cemitério Israelita de Inhaúma, no Rio. Expressões usadas pelas polacas judias deram origem a palavras hoje muito populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente tinha doença venérea, diziam ein krenke (“doença”, em iídiche), que acabou se transformando em “encrenca”. E, quando a polícia dava incertas nos bordéis, elas gritavam sacana (“polícia”) – que virou “sacanagem”.
(Na foto, de Augusto Malta, uma polaca e sua escrava)
Recomendação do dia: O livro "Baile de Máscaras: mulheres judias e prostituição - As polacas e suas associações de ajuda mútua", ed.Imago, onde Beatriz Kushnir faz uma brilhante pesquisa sobre o mundo privado de mulheres tidas como públicas.
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