19 de ago. de 2007

A Escória do Reino


Degredados portugueses estiveram presentes no Brasil durante mais de três séculos, desde quando Cabral deixou os dois primeiros no litoral da Bahia, até a independência em 1822. Esses homens e mulheres que integraram a população brasileira, faziam parte dos estratos mais humildes da sociedade portuguesa, tendo sido condenados por tribunais civis ou pela Inquisição, por crimes que variavam desde roubo de trigo, até adultério, bigamia e homicídio. Na verdade, alguns grupos sociais como o dos ciganos e o dos cristãos-novos foram sistematicamente perseguidos e sentenciados com o degredo colonial; aqui no Brasil viviam em liberdade, porém eram responsáveis pela própria sobrevivência, ganhando a vida como soldados, agricultores, carpinteiros, padres, curandeiros, parteiras, ladrões, prostitutas etc. Poucos enriqueceram ou alcançaram alguma projeção social e a maioria continuou a viver exatamente da maneira como fazia na metrópole, gerando frequentes queixas das autoridades coloniais; uma parte, porém, retornou a Portugal após o cumprimento da pena ou pelo perdão real. A prática penal do degredo (adotada em todas as colônias portuguesas) promovia a "desinfestação" - termo utilizado em documentos oficiais - do reino, livrando-o de indivíduos indesejados, considerados agentes de desestabilização social.

(Na gravura vemos integrantes da expedição de Cabral na primeira observação astronômica em solo brasileiro. A reconstituição baseia-se em cartas enviadas ao rei D.Manoel)
Recomendação do dia: O DVD "Desmundo", que relata as desventuras de Oribela, uma órfã portuguesa de 13 anos trazida com outras meninas para se casar com colonos e assim garantir a pureza racial dos descendentes de portugueses no Brasil do século XVI.