19 de mai. de 2010

O Último Barão


Em 30 de setembro de 1889, pouco mais de um ano após a Abolição, morria na sua Fazenda de São Joaquim da Grama, em Rio Claro, no Rio de Janeiro, o comendador Joaquim José de Souza Breves, conhecido como o “rei do café” no Brasil Imperial. Foi, sem dúvida, o maior proprietário de escravos e terras do século XIX, chegando a ter mais de seis mil cativos. Acumulou fortuna somando a compra de fazendas à herança dos pais e ao casamento com sua sobrinha, filha dos barões do Piraí. No seu inventário constavam 72 fazendas, imóveis nas cidades e na capital, ilhas e embarcações. Breves não acreditava na Abolição. Continuou comprando escravos após a proibição do tráfico negreiro em 1850 e, mesmo depois do 13 de maio, tirou o velho relho (chicote) da parede e deu uma surra numa escrava chamada Basília, que tinha “emburrado” e não queria voltar ao trabalho. Além de potentado do café, Breves foi testemunha ocular da História. Aos 18 anos, ele acompanhava o príncipe D. Pedro na jornada do Ipiranga, tendo o privilégio de assistir à cena do grito da Independência. Foi o último sobrevivente do episódio, que rememorava entusiasmado na velhice, dizendo que a indisposição e o mau humor de D. Pedro no dia 7 de setembro de 1822 se deviam em grande parte a uma feijoada que comera na véspera.

(Na foto, a Capela de São Joaquim da Grama, onde repousam os restos mortais do comendador. De imponente arquitetura classicizante, a igreja, de planta complexa e simétrica, com suas duas torres próximas sobre a nave, se destaca na paisagem vazia da fazenda. Seu conjunto arquitetônico encontra-se em estado de abandono, encontrando-se sem cobertura e em processo de arruinamento.)