1 de jan. de 2008

O Papa e a História


Esperou em vão quem sonhava que o papa, em sua última viagem ao Brasil no ano de 2007, pedisse perdão pelos erros cometidos em nome da fé no continente sul-americano. Os sucessivos pedidos de perdão que foram a marca de João Paulo II não encontram eco na consciência de Bento XVI. Para ele, aqui não se travou uma guerra colonial que dizimou populações inteiras de ameríndios, num processo de evangelização legitimado pela superioridade da fé católica de cristãos portugueses e espanhóis. Líderes indígenas consideraram as declarações do papa "arrogantes e desrespeitosas". Eles discordam da tese de que a Igreja Católica os tenha purificado e que retomar suas religiões originais seja um retrocesso.
Num discurso para os bispos latino-americanos e do Caribe no encerramento de sua visita ao Brasil, o pontífice distorceu um pouco a história ao afirmar que a Igreja não havia se imposto aos povos indígenas das Américas. Segundo Bento XVI, os índios receberam bem os padres europeus, já que "Cristo era o salvador que esperavam silenciosamente".
"É arrogante e desrespeitoso considerar nossa herança cultural menos importante que a deles", respondeu Jecinaldo Satere Mawe, coordenador-chefe da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Recomendação do dia: O livro "Da Esperança à Utopia", um testemunho de D.Paulo Evaristo Arns que registra a vida de alguém engajado na construção de uma Igreja nova e contemporânea desde os tempos em que, destemido defensor dos direitos humanos na época da ditadura, aprendeu a ser um hábil e firme negociador no convívio com os donos do poder.