Palmares reproduzia, dentro de suas fronteiras, a desproporção de sexos existente entre a população escrava. Esse desequilíbrio ocorria porque os senhores de escravos preferiam comprar homens jovens a mulheres e os traficantes procuravam suprir essa demanda. Calcula-se que, para cada mulher, havia três ou mais homens (variando com a área), fato que se irá refletir na composição por sexos da população palmarina. Se no quilombo fosse mantido o casamento monogâmico que os senhores de engenho impunham em suas fazendas, haveria um desequilíbrio familiar tão agudo que a desarticulação social seria inevitável. Instituiu-se assim a poliandria (na qual uma mulher tem vários parceiros sexuais concomitantes e com eles tem vários filhos), como assim descreveu um negro infiltrado em Palmares a mando de um grande proprietário de terras "...a cada escravo fugido que chega em Palmares é dado pelo conselho de justiça uma mulher, à qual possui junto com outros negros - dois, três, quatro ou cinco - pois sendo poucas as mulheres, lá adotam esse estilo para evitar contendas..." Entretanto, ao contrário do que acontecia com a maior parte da comunidade, os membros da estrutura de poder (como o rei e possivelmente os chefes de mocambos) praticavam a poligamia - Ganga Zumba tinha três mulheres, duas negras e uma mulata, enquanto Zumbi teve também algumas, havendo a hipótese de que uma delas era branca.
Recomendação do dia: O livro "Rebelião Escrava no Brasil", de João José dos Reis, ed.Companhia das Letras, um estudo cuidadoso do levante urbano ocorrido em 1835 na cidade de Salvador e que foi liderado por nagôs muçulmanos nascidos na África.
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