Aprendemos que os holandeses foram expulsos do Brasil em 1654, numa guerra valente movida contra eles por índios, negros e portugueses. Só faltou explicar como essa gente armada de espingarda, espada e arco e flecha foi capaz de vencer a principal potência econômica e militar do século XVII. Na verdade, Portugal comprou o Nordeste dos holandeses, pagando o equivalente a 63 toneladas de ouro, após um acordo que foi costurado durante negociações que tiveram início em 1641. A primeira fronteira do Brasil não foi o Rio da Prata ou a Amazônia, mas sim o Nordeste; foi aí que nossa integridade territorial correu maior perigo. Por lamentável que tivesse sido, a perda do Rio Grande do Sul não teria comprometido a unidade nacional - como não o fêz a independência do Uruguai - mas a consolidação do Brasil holandês teria estilhaçado a América portuguesa. Aliás, sem a restauração portuguesa de 1640, não teria havido a restauração pernambucana de 1654, pois a Espanha certamente teria cedido de fato o Nordeste à Holanda. A negociata foi finalizada com o Nordeste sendo pago 2/3 em sal de Setúbal e 1/3 em duas praças-fortes do Malabar outrora conquistadas por Vasco da Gama nas Índias, o que bem simboliza a opção brasileira feita pelo governo português da restauração.
(Na foto, a casa do governador holandês Maurício de Nassau em Haia, hoje museu de pinturas da coleção particular da familia real holandesa)
Recomendação do dia: O livro "História de Antonio Vieira", ed.alameda, de João Lúcio de Azevedo, uma monumental biografia daquele que ficou conhecido como apóstolo dos índios, pregador extraordinário, político ardiloso, amigo dos cristãos-novos, defensor da escravidão dos africanos, intérprete dos profetas e, segundo o poeta Fernando Pessoa, imperador da língua portuguesa.
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