27 de jul. de 2007

Boemia Intelectual


Cafés e bares desempenharam papel de destaque na vida intelectual italiana, francesa e britânica a partir do século XVII, pois eram locais onde conversações livres e criativas propiciavam aprendizagens não reguladas, sendo importantes na promoção de um saber inovador. Os donos desses estabelecimentos frequentemente exibiam jornais e revistas como modo de atrair clientes, encorajando assim a discussão de notícias e o surgimento do que muitas vezes é chamado de “opinião pública” ou “esfera pública". Essas instituições facilitavam encontros entre idéias e indivíduos. Palestras sobre Matemática eram oferecidas no "Dougla’s" e no "Marine Coffe-House" em Londres, enquanto o "Child’s" era frequentado por livreiros e escritores... Já em Paris destacava-se o "Procope", fundado em 1689 e que servia como ponto de encontro para Diderot e seus amigos às vésperas da Revolução Francesa.

(Na gravura vemos o famoso "Café de Paris", criado em 1822 e considerado, até seu desaparecimento em 1856, como o “Templo da Elegância”. Por ele passaram algumas das mais notáveis figuras da época (entre elas Alexandre Dumas) que degustavam uma das melhores cozinhas que Paris já havia conhecido. Não era contudo um reduto para os amantes da noite pois, em qualquer estação, fechava suas portas às 22:00 hs)
Recomendação do dia: o livro "O Povo de Paris", de Daniel Roche, ed.usp, obra que ilumina a vida cotidiana de um dos maiores personagens da História: o povo de Paris. Clássico da História Social, revela as maneiras de viver, as condições materiais e até as possibilidades de lazer da massa parisiense durante o agitado século XVIII.

22 de jul. de 2007

O Fim da Infância


Na sociedade pré-industrial a criança e o adolescente eram encarados de uma forma diferente da dos dias atuais. A duração da infância era reduzida; a criança logo que adquirisse algum desembaraço físico era misturada aos adultos e partilhava de seus trabalhos e jogos. De criancinha pequena transformava-se imediatamente em homem ou mulher jovem, sem passar pelas etapas da juventude, o que é um aspecto essencial das sociedades evoluídas de hoje. A passagem da criança pela família era, portanto, muito breve e insignificante para que se tivesse tempo ou razão de forçar a memória ou a sensibilidade, como é demonstrado pela raridade das alusões às crianças e às suas mortes nos diários de famílias medievais. A partir do fim do século XVIII tudo muda; a escola substitui a aprendizagem como meio de educação e a criança deixa de aprender a vida diretamente, através do contato com adultos, sendo mantida em uma espécie de quarentena antes de ser solta no mundo. Começou então um longo processo de enclausuramento que se estenderia até nossos dias e ao qual se dá o nome de escolarização...

(Em "A Família de Tito", quadro pintado em 1668 pelo holandês Rembrandt, podemos observar crianças vestidas como adultos)
Recomendação do dia: O livro "O Mito da Idade Média", de Regine Pernoud, ed.Europa-América, onde a historiadora francesa desafia a opinião generalizada de que o período medieval teria sido uma época de trevas, encaixada entre os séculos gloriosos da Antiguidade e do Renascimento.

13 de jul. de 2007

Tribos Pagãs


Cinco milênios atrás, antes mesmo que os egípcios construíssem suas pirâmides, um povo misterioso criava monumentos no mundo antigo. Eram as tribos pagãs da velha Inglaterra que, durante trinta séculos até a chegada dos romanos, foram os responsáveis pelo erguimento de impressionantes santuários e tumbas coletivas. Apesar de atrasados tecnologicamente, descobriram meios de transportar enormes blocos de pedra por centenas de quilômetros e ainda inventaram uma técnica para registrar a passagem das estações do ano. As tribos pagãs viviam sem a escrita, portanto poucas pistas temos de como conseguiam erguer tantas estruturas, porém 50 séculos não apagaram as provas evidentes e até hoje visíveis do que realizaram...

(Na foto, Stonehenge, o mais famoso monumento pagão do mundo. Localizado no sul da Inglaterra, seu propósito vem intrigando gerações de pesquisadores, porém como parece claro que a tentativa de comunicação com os mortos era parte essencial da vida pagã, é quase certo que o conjunto de monólitos que formam Stonehenge tinha um importante papel em rituais fúnebres, sendo encarado como um portal para o mundo dos espíritos)
Recomendação do dia: O livro "A História do Alfabeto", de John Man, Ediouro - A idéia por trás do alfabeto (que a linguagem com toda sua riqueza de sentidos pode ser registrada por uns poucos símbolos gráficos) é extraordinária. Do surgimento do alfabeto ocidental até sua presente evolução, o livro nos mostra a contribuição vital de 26 letras para o nosso senso de identidade.

8 de jul. de 2007

Pela Glória do Império


"O inglês nasce com um certo poder milagroso que o torna senhor do mundo. Quando deseja alguma coisa, ele nunca diz a si próprio que a deseja. Espera pacientemente até que lhe venha à cabeça, ninguém sabe como, a insopitável convicção de que é seu dever moral e religioso conquistar aqueles que têm a coisa que ele deseja possuir..." Assim referia-se o dramaturgo inglês Bernard Shaw sobre os métodos de conquista empregados pelos ingleses durante o Neocolonialismo. A partir da metade do século XIX, na ânsia pela descoberta de novas fontes de matérias primas e de novos mercados consumidores, os europeus partem para a conquista de áreas desconhecidas. Desta forma, as marginalizadas África e Ásia foram os alvos preferenciais do Imperialismo e de disputas territoriais, prenúncios de tormentos somente compreendidos diante dos horrores da Primeira Guerra Mundial.

Recomendação do dia: o livro "O Fantasma do Rei Leopoldo", de Adam Hoschild, Ed.Companhia das Letras, que nos mostra a pilhagem genocida exercida pelo rei da Bélgica Leopoldo II ao longo do vasto e inexplorado território que circundava o rio Congo, relatando detalhes macabros, tais como casas e jardins de orgulhosos oficiais belgas decorados com crânios humanos. Tais crimes geraram o primeiro grande movimento por direitos humanos do século XX.